Sabemos o quão fundamental é o armazenamento de grãos para a produção agrícola. Conheça as práticas que são importantes para um armazenamento de grãos efetivo e os problemas que o Brasil está enfrentando com a capacidade de armazenamento de grãos.
Todos nós sabemos que o Brasil é um grande exportador de alimentos, porém temos um entrave para que essa exportação (ou até mesmo venda interna) possa aumentar em eficácia: a armazenagem dos produtos agrícolas, ocasionada tanto por erros nos processos quanto pela falta de espaço.
Esses problemas causam perdas de até 20% dos alimentos entre a colheita e o armazenamento, prejudicando a qualidade e quantidade dos grãos. Armazenar corretamente os grãos permite vendê-los em momentos mais vantajosos, evitando perdas e melhorando a negociação de preços.
Para começar a tratar sobre esse problema, primeiro precisamos definir o que é o armazenamento de grãos, qual é a sua importância, e qual é o passo a passo para contornar algumas situações.
O que é o armazenamento de grãos e quais fatores afetam a qualidade de um bom armazenamento?
O armazenamento de grãos consiste, simplesmente, em preservá-los após a colheita, a fim de evitar sua deterioração até a venda.
Os cuidados necessários para a preservação dos grãos são: limpar, secar, proteger de pragas e doenças e correlacionar com a distribuição e logística. Manter os grãos seguros é proteger o dinheiro que se investiu na plantação. Muitos produtores guardam parte da colheita, por pouco ou muito tempo, para vender depois.
Existem alguns fatores que podem interferir na qualidade do armazenamento de grãos, como:
- Teor de umidade,
- temperatura e
- umidade relativa.
O armazenamento de grãos em umidade adequada é importante pra que possamos evitar perdas, sendo possível afirmar que se a umidade for baixa, fica mais fácil controlar outros fatores adversos como doenças e pragas.
A temperatura também importa: se fica muito quente, pode estragar os grãos rapidinho. O aquecimento acontece por causa de fungos, especialmente quando os grãos têm mais água do que deveriam. Para que possamos controlar isso, precisamos de boa circulação de ar e cuidar para que os grãos não tenham muita água.
Os grãos propriamente dizendo também têm características próprias que afetam a qualidade, como porosidade (quanto espaço de ar eles ocupam), como eles trocam calor e como a umidade deles se relaciona com o ar ao redor.
A importância da secagem no armazenamento de grãos
Para um armazenamento mais eficaz existe outra característica muito importante, que é a secagem.
Secar grãos é essencial para lidar com uma produção maior, em consequência pode trazer várias vantagens como a liberação da área para novas plantações, redução de perdas no campo, permissão do armazenamento prolongado sem deterioração, mantimento da capacidade de germinação das sementes e prevenção do ataque de insetos e microrganismos.
A secagem pode ser natural ou em secadores, mas a escolha certa ajuda a manter a qualidade, economizar tempo e recursos, e diminuir riscos.
A velocidade de secagem depende do tamanho e da estrutura dos grãos, sendo mais rápida em grãos pequenos e sem cascas.
Sistema de armazenamento e unidade armazenadora
A escolha do sistema de armazenamento deve considerar o volume a ser armazenado e os recursos financeiros necessários para construção, equipamentos e operação.
Aspectos como custos, tipo de produto, finalidade, fatores técnicos, operacionais e localização são importantes para selecionar a unidade de armazenamento adequada.
Diferentes sistemas de armazenamento, como paiol, armazém graneleiro, silos metálicos, de concreto, bags e convencionais, são usados para organizar e armazenar produtos, e a escolha deve considerar fatores como localização, viabilidade econômica, requisitos técnicos, capacidade da propriedade e mercado.
Quando falamos da unidade armazenadora temos que garantir a qualidade e segurança dos grãos armazenados e isso, exige uma preparação das unidades de armazenamento, com controle e monitoramento adequados.
Com isso, a escolha do local é crucial, deve ser livre de enchentes e contaminação.
Alguns cuidados devem ser tomados como: manutenção regular, instalação de filtros de ar e limpeza – eles são essenciais para evitar contaminações e manter um ambiente limpo.
Outra característica a se considerar são os diferentes tipos de pisos, como madeira e concreto, pois possuem vantagens e desvantagens, influenciando na conservação dos grãos.
O piso deve ser elevado para escoamento da água, e sua escolha deve atender às características técnicas e econômicas. Para garantir a qualidade, é necessário evitar contaminantes externos que possam afetar os grãos.
Veja como funciona o armazenamento de grãos no vídeo a seguir:
Impactos das pragas que podem afetar um armazenamento eficaz
Outro fator importantíssimo que podemos aprender no curso EXPERT SOJA E MILHO e em algumas aulas do AGROCLASS é que devemos nos atentar e saber identificar as principais pragas que afetam o armazenamento de grãos.
Esses insetos podem ser divididos em pragas primárias, que atacam grãos não danificados e podem começar a infestação no campo, e pragas secundárias, que atacam grãos danificados ou previamente infestados.
Fatores como temperatura e umidade influenciam as infestações, e a escolha do tipo de piso da unidade armazenadora também é relevante.
As principais pragas, como o gorgulho de grãos, broca dos cereais, besouro de cereais, traça dos cereais e caruncho de feijão, podem causar danos significativos aos grãos. Identificar essas pragas, entender seus hábitos e adotar medidas de controle adequadas é fundamental para garantir a qualidade dos grãos armazenados e evitar prejuízos.
E para o controle dessas pragas devemos focar no MIP (que é o Manejo Integrado de Pragas) enfatiza abordagens saudáveis e naturais, minimizando danos aos agroecossistemas.
Predadores, parasitas, insetos machos estéreis e doenças em insetos são usados no controle, assim como feromônios para monitoramento ou interrupção do acasalamento.
Embora haja muitos inseticidas disponíveis, o MIP enfatiza a diversificação de estratégias de controle, incluindo a gestão pré-armazenamento, limpeza, secagem, controle de qualidade, gestão do armazenamento, uso de variedades resistentes e inseticidas naturais, visando à redução da dependência excessiva de inseticidas químicos.
Problemas do armazenamento de grãos no Brasil
O Brasil enfrenta um desafio de armazenamento de grãos após alcançar uma safra recorde em 2022/23 (Tabela 1).
Para entendermos esse problema precisamos definir o conceito de capacidade estática, que é a quantidade de produtos que pode ser contida na estrutura física de um armazém ou silo, enquanto a armazenagem dinâmica diz respeito à frequência com que os produtos são movimentados, representando, desse modo, a habilidade de armazenamento ao longo de um intervalo específico.
Tabela 1. Capacidade estática de armazenagem e produção de soja e milho (2022/2023), em MMt*
Região | Capacidade estática | Produção de soja e milho | Déficit/superávit |
Centro-oeste | 91.414 | 153.677 | -41% |
Sul | 83.831 | 62.201 | 35% |
Sudeste | 34.444 | 25.867 | 33% |
Nordeste | 16.022 | 27.199 | -41% |
Norte | 8.575 | 15.622 | -45% |
BRASIL | 234.286 | 284.565 | -18% |
*considerando 1,2 giro/ano, devido ao armazenamento da 2ª safra de milho.
Fonte: Conab, Itaú BBA (2023).
O Problema brasileiro é que: a capacidade estática de armazenamento no país aumentou ligeiramente para 234,3 milhões de toneladas em 2023, mas a produção projetada de milho e soja para o mesmo ano é de 284,57 milhões de toneladas, resultando em um déficit de mais de 50 milhões de toneladas apenas para esses dois grãos – o que representa um déficit de armazenamento de 18%.
Considerando a safra total de grãos, o déficit aumenta para 124,9 milhões de toneladas. Embora o Brasil já tenha exportado quantidades significativas de milho e soja até maio de 2023, os estoques remanescentes de safras anteriores também precisam ser considerados.
Para lidar com essa questão, o país tem recorrido cada vez mais a alternativas de armazenamento, como os silos bolsa (compartimentos de armazenamento em formato de bolsas flexíveis, que permitem armazenar todo tipo de grão e silagem).
O déficit de armazenamento leva à venda pressionada e à queda nas cotações, causando impacto nas operações deste ano.
As dificuldades logísticas também afetam a formação de preços na origem. As regiões Centro-oeste, Nordeste e Norte são as que mais apresentam problemas com o armazenamento de grãos. Isso é bastante preocupante, visto que a região Centro-oeste é a principal região produtora de grãos do País.
Uma análise da capacidade de armazenamento e da produção de grãos revela um cenário preocupante: nos últimos 10 anos, a capacidade de armazenamento cresceu em média 2,3% ao ano, enquanto a produção de milho e soja aumentou a uma taxa de 5,6% ao ano.
Conclusão
Em considerações finais, torna-se evidente que o Brasil enfrenta um desafio significativo no que diz respeito ao armazenamento de grãos, um setor essencial para a exportação de alimentos.
As lacunas na capacidade estática de armazenamento têm impactos diretos na produção e no mercado, resultando em quedas nas cotações e vendas pressionadas. Para superar esses obstáculos, é imperativo que o país adote estratégias de gestão de riscos e logística mais eficazes.
A busca por soluções, como o aprimoramento das políticas de distribuição e a diversificação de métodos de armazenamento, como os silos bolsa, emerge como uma necessidade urgente. Além disso, a incorporação de ferramentas de gestão de risco se mostra vital para permitir aos produtores escolherem momentos mais favoráveis para a venda, mesmo em cenários de capacidade de armazenamento limitada.
Em um mercado sujeito a volatilidades políticas e econômicas, a gestão de riscos, por meio de estratégias de derivativos e outras abordagens, destaca-se como uma maneira de mitigar as incertezas e garantir a segurança dos produtores.
Portanto, a intersecção entre o aprimoramento da capacidade de armazenamento e a adoção de estratégias de gestão de riscos emerge como uma estrada a seguir para aprimorar a eficácia e o sucesso do setor de grãos no Brasil.
Referências
CONAB. Situação da Armazenagem no Brasil: 2006. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/download/nupin/armazenagem.pdf>. Acesso em: 30 de agosto 2023.
DEVILLA, Ivano Alessandro. Projeto de Unidade Armazenadoras. Universidade Estadual de Goiás. Disponível em: < https://www.monografias.com/pt/docs/Projeto-de-unidades-armazenadoras-F3CF36JQH5> Acesso em 30 de agosto 2023.
IBGE. Pesquisa de Estoque. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/1989/estoques_2022_v35_n1_p1_jan_jun_br.pdf. Acesso em: 30 de agosto de 2023.